sexta-feira, maio 14, 2010

O Estômago



Na vida, há os que devoram e os que são devorados. Raimundo Nonato está numa posição especial: ele cozinha. Eé nas cozinhas de uma pequena tasca, de um restaurante italiano e de uma prisão que Nonato vive a sua intrigante história e aprende as regras da sociedade dos que devoram ou são devorados. Regras que ele usa a seu favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer a sua parte - e eles sabem melhor que ninguém qual é a parte melhor. Estômago, uma história nada infantil sobre poder, sexo e gastronomia.
Uma história que eu não queria perder. Apetece-vos?


Gosto de listas.Listas de gostos

Como esta:


Alegrias, as desmedidas.                                  *Foto de Fernando Machado
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis;
Conselhos, os inexeqüíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os temporários.
Adeuses, os bem sumários.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.
                                                                                                 
Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.
Divindade, o Logos.

Decadentes, os lisonjeiros.
Mensagens, o mensageiro.

Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.
*Bertolt Brecht, "Poesia / 1913-1956"

Desabafo

Ontem não deu. Não consegui. Era muito o peso. Carregava-o há demasiado tempo. Sabia que já  devia ter ido , para a estação de comboio aqui de Roma-Areeiro , e quando um comboio , daqueles da Fertagus, bem barulhentos , passasse, teria que gritar, berrar, bater com o pé no chão, bater com os dois pés nos chão.
Mas não, não aguentei , quando os principes , mais uma vez se tornaram reis e eu a sua súbdita. E ontem nem dei por isso. Mas eles sim. Sabem que basta pedirem-me duas vezes, que á terceira cedo. Sabem que eu não dou ordens, peço cem ,mil vezes ,até me ouvirem. Mas não, ontem , não.
Parei,desisti e disse -lhes o que eles não gostaram de ouvir, que não merecia, que me esforçava por eles, e eles por mim nada faziam.Que sendo assim, tambem iria fazer da mesma forma. Por isso, parei, calei-me, não por nao ter nada para dizer, mas porque me faltaram as forças. .Fiquei assim,apática, sem saber o que fazer, como reagir,
Por isso, ontem, lavaram os dentes, sussurraram qualquer coisa um ao outro e enfiaram-se na cama.
Antes, um de cada vez, abraçaram-me e pediram-me desculpa. Que iriam -se portar bem, dali para  a frente.
E a força ,voltou, devagarinho, quando a princesa me segredou " não te zangues comigo mamã, senão quem é que me ata os atacadores dos meus sapatos?!" e entregou-me um papelinho amarelo, escrito " amoto moito mama!"

André Letria


Alguns dos livros cá de casa , tem como ilustrador o fantástico André Letria. E por vezes nem precisávamos de letras para entrar no mundo fantástico das crianças
O site dele acabou de  sair http://www.andreletria.pt/ e está super ilustrativo, como só poderia estar.