As pessoas metem-me medo. Assustam-me e não andam com facas, nem pistolas, nem fisgas.Mas respiram insegurança, ignorância e vivem de aparências e isso é mais assustador do que qualquer facada cheia de intenção.
Aliás de boas intenções está o Inferno cheio!
Foram precisos três quinze dias para usar-te como espécie de diário da vida que para ser vivida, necessita de ser escrita...uns dias mais que outros. Para mim,por mim...
segunda-feira, maio 24, 2010
Eu queria lavar a tua roupa com sabão azul...
"Eu queria arrumar-te a casa, limpar-te os cinzeiros, fazer-te a comida e sentar-me à tua frente enquanto tu comes, só a olhar-te a comer. Eu queria acordar a teu lado antes de tu acordares e olhar-te dormir, olhar a tua cara toda, o teu corpo e só então vestir-me. Eu queria fazer tudo aquilo que te cansa que te não dá prazer e deixar-te tempo para o resto, o que importa. Eu queria levar-te a passear no meu carro de manhã num dia de semana de sol antes da primavera. Eu queria mostrar-te os meus discos e dançar, dançar só para ti, mesmo que tu já nem estivesses a olhar. Queria esperar-te aos domingos depois da missa, queria estar em silêncio a teu lado, no silêncio de um olhar que se prolonga infinitamente no silêncio de um gesto que traz consigo a mais terna carícia num silêncio de um eco que ficou da última palavra proferida, que nunca dissemos... Eu queria lavar a tua roupa com sabão azul no tanque do quintal e estendê-la na corda ao vento. Queria esperar-te de tarde sentada à mesa da cozinha, sabendo que tu não vens nem virás nesse dia e no outro, talvez no outro... Queria limpar o pó dos teus livros e encontrar por acaso num deles uma frase sublinhada, uma frase que seria tudo o que eu queria ouvir de ti naquele momento e ficar feliz, ser feliz por momentos... queria ir à praça comprar o peixe mais fresco e regatear com as peixeiras, gritando mais alto do que elas se fosse preciso. Queria de noite a dormir sentir um beijo teu quando chegas já de madrugada e sonhar contigo nessa noite. Eu queria não ter de escrever mais por já não ser preciso."
* Ana Maria Campos
(Revista 365 )
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Atrás das palavras
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