Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.
O estar ali, o ser de certo modo,
O saber-se como é, onde é que está e como,
O aguardar sem pressa, e atender-nos
Da forma necessária.
Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,
Esperam as coisas que o desespero as busque.
Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.
As cortinas de rede, exactamente aquelas,
A cadeira onde a memória está sentada,
A mesa, o copo, a chávena, o relógio,
O móvel onde alguém permanece encostado
Sem volume e sem tempo,
Nós próprios, quando os olhos indignados
Nas pálpebras se encobrem.
Põe-se a pedra na mão e a pedra pesa,
Pesa connosco, forma um corpo inteiro
Fecha-se a mão e a mão toma-lhe a forma,
Conhece a pedra, estende-lhe o feitio
Sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.
Abre-se a mão e a mesma pedra avulta.
Se fosse o amor dos homens
Quando se abrisse a mão já lá não estava.
*António Gedeão
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